quinta-feira, 21 de maio de 2020

DR.PEDRO, ENDOIDECEU?


Dr.Pedro, advogado formado na década de 60 com inscrição na OAB/RS que mal alcançava os quatro dígitos, era um profissional honesto, ético, de palavra, competente e de larga experiência forense. Na área cível dominava qualquer tipo de lide e por tal razão não refugava nenhuma demanda.

Ao ser contatado por qualquer eventual cliente só exigia única condição para aceitar o caso, qual seja: que lhe fosse feito pormenorizado relato dos fatos e que estes deveriam ser corroborados por robusta prova documental. 

E dessa forma, no início dos anos 2000 fora contratado por empresa de grande porte para defendê-la em ação possessória que tramitava em cartório cível do Foro Central de Porto Alegre. Vale ressaltar que a serventia judicial, não obstante a qualidade pessoal dos servidores, não tinha a organização cartorária como virtude. 

Pois bem, de posse do mandato outorgado pela cliente e da contrafé da ordem citatória, dirigiu-se ao cartório para retirar os autos em carga tendo em conta que já estava a fluir o prazo contestacional.

Lá chegando solicitou ao atendente Eufrásio a vista dos autos. Procura aqui, procura acolá, e decorrido já trinta minutos volta o funcionário e informa ao Dr.Pedro a não localização do processo. Dr. Pedro, de posse de certidão atestando que o feito não fora encontrado, retira-se do cartório e afirma, voltarei amanhã.

No dia seguinte, nova ida, novas procuras, novos desencontros e outra certidão cartorária nos termos da primeira. 

No terceiro dia, os fatos repetem-se. Dr.Pedro, homem tolerante e paciencioso,que sempre prestigiou todos os serventuários, aos poucos vai perdendo a calma, ainda mais, porque o prazo de contestação anda a galope. Dr. Pedro, chama Eufrásio e fala-lhe: meu jovem, dos quinze dias de prazo que disponho já perdi três por culpa que não é minha. Então, dou-lhe o ultimato, amanhã o processo terá que ser localizado e não aceitarei nenhuma desculpa.

No dia seguinte, Dr.Pedro avisa a secretária para cancelar todos os compromissos agendados pela manhã, mediante prévia ciência aos clientes, considerando que só retornará ao escritório ao final do turno matinal e depois que o malfadado processo for localizado. 

Dito isso rumou para o Foro Central, antes passou na banca de jornais e similares da esquina e adquiriu famosa revista de vinculação nacional. 

Adentrou no cartório - naquela época advogados tinham livre acesso nos recintos cartorários - e pediu ao Eufrásio o processo. 

Sentou-se à mesa destinada aos advogados e começou a folhear a revista e não demorou cinco minutos Eufrásio entregou-lhe o processo. 

Dr. Pedro, surpreso com o ocorrido, de súbito disse ao servidor; não, isso não, estou a cinco dias atrás do processo e justo hoje que cancelei minhas obrigações no escritório e prometi só retornar ao final da manhã, tu encontras os autos com tamanha ligeireza, isso não tem cabimento. E como fica a minha palavra dada? Faça o seguinte: esconda o processo em lugar de difícil acesso e volte a procurá-lo com calma porque só saio daqui no encerramento do turno da manhã. Eufrásio, assombrado com a reação do Dr.Pedro, nada entendeu e taciturno pensou: será que o Dr. Pedro, endoideceu?

Nenhum comentário: