Senhor, se a quem nada tem com que pagar ainda será lícita a ousadia de pedir. Juntemos todas as nossa orações, de todos os cantos do planeta, num oceano de lágrimas e soluços, pela regeneração de vossa obra inenarrável, desnaturada hoje totalmente pela renascença do antigo paganismo na política que baniu a moral, o direito e a verdade, substituídos pelo interesse, pela servidão e pela mentira.
Senhor, deixei correr sobre o planeta o sopro da vossa justiça. Então os mares se escumarão dos piratas. Então os continentes se desinfetarão dos salteadores de Estados. Então os tronos se limparão de verdugos. Então da diplomacia se espancarão as trevas, a cujo abrigo se conspira entre os soberanos e as castas a desgraça das nações. Então da política internacional se exterminará os espírito de conquista, o espírito de reação, o espírito de neutralidade.
Se os governos do país cobrarem sentimento dos seus deveres. Se os seus cidadãos adquirirem a consciência dos seus direitos. Se os homens de Estado mudarem de costumes. Se a sua política se regenerar dos seus pecados mortais. Se as suas leis começarem a ser observadas. Se o seu povo se assenhorear dos seus recursos, exercitar as suas forças, recuperar a sua autoridade e tomar nas suas próprias mãos o seu destino. Para que nos não desonremos e percamos, traindo os vossos mandamentos. Para que nos conselhos das nações nos não caiba apenas um assento de complacência. Para que na elaboração da humanidade futura não entremos como elemento negativo.
Esses são alguns trechos da oração feita por Ruy Barbosa no dia 11 de agosto de 1918, publicada na Revista Mensal - Eu Sei Tudo - que possuia sede no Estado do Rio de Janeiro.
As sábias palavras do mestre Ruy Barbosa, não obstante proferidas no início do século 20, guardam estreita relação com os dias atuais já que com eles tem efetiva relação, por isso, a semelhança dos fatos passados com os acontecimentos hodiernos não é mera coincidência.
As chagas apontadas pelo ilustre jurista há quase cem anos não cessaram, pelo contrário, recrudesceram e o que é pior, agora com refinado aprimoramento.
As mazelas mundiais não são poucas e nosso país, lastimavelmente, tem papel de destaque nesse cenário considerando a quantidade de safadezas que cotidianamente emergem em nosso meio, baixezas das mais variadas espécies, tanto que para elencá-las aqui seria necessário espaço e tempo vultosos, circunstância que tornaria este artigo deveras maçante.
Se ao invés de vivermos num estado de total indolência e omissão fôssemos um povo preocupado em exercer, em sua plenitude, o sagrado e legitimo direito de cobrar de todos os homens públicos desta nação efetivo respeito e obediência à nossa lei maior - Constituição Federal - certamente, seríamos um país de superior condição moral.
De qualquer sorte como o sentimento de ceticismo em mim não encontra refúgio, acredito e levo fé que um dia a imoralidade será extirpada - modo definitivo - das entranhas da sociedade brasileira.
Por fim, é uma pena que as súplicas formuladas a tanto tempo por homem da grandeza de Ruy Barbosa não tenham sido suficientes para sensibilizar o Senhor, no entanto, com a devida vênia do eminente jurista penso que esta mais do que na hora de implementar sua inteira ratificação, o que faço neste exato momento.
sábado, 3 de setembro de 2011
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