terça-feira, 14 de abril de 2020

DOMINGO DE PÁSCOA


Domingo dia 12 festejou-se mais uma páscoa, festa cristã comemorativa da ressurreição de Jesus Cristo.

Mesmo em tempos de dura provação - pandemia de coronavírus que assola o mundo - muitos tiveram a ventura de celebrá-la em seus lares e desfrutando da companhia de seus familiares. 

Não obstante a relevância da data, para considerável parcela da sociedade o domingo pascal transcorreu igual aos outros tantos dias da semana, ou seja, sem qualquer novidade e sem destoar da verdadeira realidade por ela vivenciada no dia a dia. Vale dizer, milhões de famílias brasileiras costumam presenciar o passar dos dias do mesmo jeito e tendo como rotina três regras básicas; sem alegria, sem contentamento, e sem felicidade. 

E, objetivando corroborar esta assertiva trago aqui um pequeno exemplo; o de Raimundo, de sua esposa e seus quatro filhos pequenos que compõem uma verdadeira escadinha, de 4, 5, 6 e 7 anos, típica família que em completa situação de penúria trava uma luta constante pela própria sobrevivência.

O cônjuge varão, não obstante tratar-se de um jovem de 38 anos, por pouco tempo frequentou os bancos escolares e por isso enfrenta sérias dificuldades para colocar-se no mercado de trabalho. Vive fazendo todo tipo de biscates, mas, atualmente nem esses serviços ocasionais pode executar em razão desse malfadado vírus.

Por outro lado, sua mulher, de semelhante idade, sofre de dependência química e por óbvio declarada inapta para o trabalho. Em raros momentos de lucidez e aos trancos e barrancos, mal cuida dos filhos.

Estes, quando podem frequentam a creche comunitária municipal e a filha Paula, a mais velha, por distintos motivos de vez em quando vai à escola estadual do bairro. Ao menos, a alimentação nestes locais é garantida, mas, no momento o seu fornecimento resta prejudicado em virtude do fechamento dos estabelecimentos por força da covid-19. Registre-se que a alimentação da creche e da escola em muitas das vezes é a única que as crianças tem no dia. E a fome, com se sabe,  não espera ela é cruel e desumana. 

Raimundo, não é beneficiário de nenhum programa social governamental por não preencher os requisitos legais para obtê-los, como dizem-lhe os solertes burocratas estatais. Assim, encontra-se ele literalmente à margem da sociedade. Alguns de seus vizinhos objetivando aplacar sua angústia cotizaram-se para alcançar-lhe mantimentos, o grosso mesmo de uma cesta básica. E às crianças, para não passarem mais uma páscoa sem nenhum agrado receberam modestos bombons para saudarem o coelhinho. É evidente que esta bem-vinda ajuda reveste-se de cunho paliativo haja vista seu caráter efêmero. E infelizmente, na segunda-feira, passados os festejos pascais, tudo voltou a ser como dantes, ou seja, uma vida de luta e de extrema dificuldade. 

E por derradeiro, cabe indagar: será que um dia o Raimundo terá um trabalho que lhe permita criar seus filhos com dignidade? e esta triste prole será que poderá um dia sonhar com um futuro promissor?

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